segunda-feira, agosto 22, 2011

MEUS AMORES

Meus filhos, meu neto
Jamais os deixarei sozinhos
Pois sempre estarão comigo
Estejam onde estiverem
De vocês sempre lembrarei
Choros, risos, tudo jamais esquecerei
O tempo passa na vida e na memória
Logo percebo que os laços são reais agora
Meu amor é eterno
O vento não leva
O fogo não queima
A água não carrega
Sempre que estou só, sinto-os em meu coração
Minha filha,
Meu filho,
Meu neto...
amo vocês.

segunda-feira, agosto 15, 2011

Linguística

-->Autor "Ivani Abreu"
ARTIGO

OS DIFERENTES ASPECTOS DA LINGUAGEM FALADA E ESCRITA
Ivani Aparecida Silva de Abreu[1]
André Caixeta[2]
O trabalho aborda três aspectos importantes da Lingüística mostrando a semelhança e a diferença da linguagem falada e da linguagem escrita. Falamos diferente da escrita e escrevemos diferente da fala mostra-se que a fala das pessoas deve ser espontânea. Em qualquer domínio social existe grande variação de linguagem, e mesmo o professor nem sempre consegue monitorar a sua linguagem na escola. As pessoas têm a liberdade para dizer a palavra “trabaianu”, em vez de dizer na forma escrita “trabalhando”. As atividades com a linguagem escrita em sala de aula mostram como a gramática é passada na escola, às vezes sem fundamentos por impor muitas regras. A modalidade do português não-padrão é coerente, mas não deve eliminar a modalidade padrão de ser ensinado em sala de aula. O ensino da gramática normativa, considerando a linguagem natural mostra que o português padrão é adquirido na escola por meio da língua escrita, e o objetivo principal da escola é ensinar a norma-padrão, de criar possibilidades para facilitar o ensino-aprendizagem. As regras que impedem que a comunicação seja espontânea são dispensáveis ao ensino da gramática.

Palavras – Chaves: Linguagem falada, linguagem escrita, português padrão, português não padrão, variação lingüística, gramática.
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ABSTRACT:
The paper addresses three important aspects of linguistics showing the similarity and difference of language spoken and written language. We speak in different writing and write different speech shows that the speech of the people must be spontaneous. In any social field there is wide variation in language, and even the teacher can not always monitor their language at school. People have the freedom to say the word "trabaianu" instead of saying in written form "working." The activities with the written language in the classroom show how the grammar is spent in school, sometimes without foundation by imposing too many rules. The mode of Portuguese non-pattern is consistent, but should not eliminate the standard mode to be taught in the classroom. The teaching of grammar rules, given the natural language shows that the standard Portuguese is acquired in school through written language, and the school's main goal is to teach the standard norm, to create opportunities to facilitate teaching and learning. The rules that prevent communication is spontaneous are dispensable to the teaching of grammar.
KEYWORDS: Spoken language, written language, standard Portuguese, Portuguese non-standard, language variation, grammar.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a importância da linguagem falada e linguagem escrita no ensino da Língua Portuguesa, mostrando a semelhança e a diferença entre elas. Portanto, não seria viável falar sobre a lingüística e deixar de falar da gramática ou vice-versa, pois as duas ciências estão juntas na língua portuguesa, desempenhando papéis importantes no processo de ensino aprendizagem do aluno.
Outro objetivo é conscientizar o educando, e também o professor, de que as sociedades comunicam e transmitem toda a sua cultura aos outros de forma natural, espontânea, por meio da fala. Deve-se respeitar e aceitar os falantes da língua não-padrão naturalmente, para que não haja o preconceito lingüístico dentro da nossa sociedade. Aprender cada vez mais a língua, com base na gramática é de grande importância no mundo da escrita, levando em conta que a linguagem falada é a identidade social de cada um.
Este trabalho tem embasamento teórico em várias referências bibliográficas conforme citado no final da pesquisa. É formado por três capítulos, sendo o primeiro capítulo Falamos diferente da escrita e escrevemos diferente da fala mostra-se que a fala das pessoas em cada domínio é diferente, em casa com a família, na sociedade, no lazer, na igreja e na escola e que, mesmo na escola, faz-se necessário também ser espontânea. Quando a criança inicia o processo escolar, ela traz em seu repertório, a linguagem materna que o professor precisa levar em conta. O professor precisa trabalhar de forma natural com o aluno que tem uma linguagem rural ou qualquer outra, mostrando a fala monitorada em sala de aula. Por exemplo: a palavra trabalho, geralmente as pessoas menos escolarizadas falam trabaio. Cabe ao professor mostrar a palavra “correta” na escrita sem discriminar a fala deste aluno, para que o mesmo monitore a fala sem desprezar a escola, pois, só poderia falar em erro, se cada falante errasse de forma diferente e individual, no momento de transmitir o som daquela palavra.
Já o segundo capítulo, A linguagem escrita em sala de aula, apresenta como a teoria da gramática é passada na escola. Ela é ensinada muitas vezes sem fundamentos. E sendo aplicada indevidamente, resulta-se em prejuízos de tempo pedagógico para professores e para alunos. Pois são tantas regras decorativas, que os alunos acreditam que a linguagem escrita é difícil de aprender. O português não padrão é uma linguagem coerente como qualquer outra linguagem, e sendo aceito, não existia mais o preconceito linguístico dentro de sala de aula.
No terceiro capítulo, O ensino da gramática normativa, considerando a linguagem natural faz uma ligação entre as duas modalidades: a norma padrão e não padrão, mostrando como elas são importantes na vida escolar do aluno, bem como a validade de ensinar a gramática normativa, dando valor à linguagem natural do educando. É coerente o professor mostrar como a norma-padrão tem tanto prestígio social, a qual é nomeada como língua portuguesa, representando a fala dos falantes desta língua, mostrando a importância de ser ensinada na escola. A escola precisa aperfeiçoar o ensino da gramática normativa com eficácia.
Para o professor ensinar a língua portuguesa, é necessário levar em conta o conhecimento cultural que o aluno tem em seu processo de aquisição da linguagem adquirida no lar, antes de colocá-lo em contato com as regras da gramática normativa, para não se tornar sujeito a essa regra que indica o “modo correto de falar”. Essa imposição marca a diferença entre a linguagem falada, que não é preciso seguir a regra padrão, e a linguagem escrita que é ensinada na escola, sendo a língua não-padrão passada de uma geração para outra por meio da fala.
1 -Falamos diferente da escrita e escrevemos diferente da fala
Na escola, como em qualquer outro domínio social, encontramos grande variação de linguagem. Mesmo o professor, exercendo um papel social de prestígio sobre seus alunos, está sujeito a regras rigorosas na sua prática pedagógica, ou seja, o professor é exemplo de linguagem monitorada em sala de aula, mas nem sempre ele consegue passar para os alunos essa linguagem a todo o momento. Pode-se observar a linguagem do professor ao explicar um texto escrito no quadro-negro a alunos de segunda série.
Quem sabe fazê aqui agora? Pest’enção aqui, ó. Depois cês copia aí, ta? Tá escrito aqui. (lendo do quadro) Responda. Com quem se parecia o? (pára de ler) Como é o nome da leitura lá? Pega a leitura lá que cê sabe. Pega lá no livro, ta? É o quê? O palhacinho. Como é o nome da leitura lá? Diga aí. [...]. (BORTONI, 2004: p. 27)
Percebemos variação lingüística em sala de aula. O professor usou linguagem que apresenta menos monitoração, a sua fala foi espontânea. No domínio do lar ou no lazer, existe mais variação linguística do que na escola.
Sobre esse assunto, Bortoni afirma:
O que estamos querendo dizer é que, em todos os domínios sociais, há regras que determinam as ações que ali são realizadas. Essas regras podem estar documentadas e registradas, como nos casos de um tribunal do júri ou de um culto religioso ou podem ser apenas parte da tradição cultural não documentada. (BORTONI, 2004: p. 25)
Geralmente, nas comunidades onde se encontram diversas variedades regionais prevalecem as que têm mais prestígio, sendo assim, valorizada a variedade lingüística utilizada pelos grupos de maior poder político e econômico, por ser considerado como linguajar mais bonito e correto. O dialeto falado em uma região de classe social baixa pode ser considerado um dialeto ruim, enquanto o dialeto falado em região social elevada e poderosa pode ser considerado como um dialeto bom. Crença sobre a superioridade de uma variedade enraíza cada vez mais na cultura brasileira. Mas esses juízos de valor são idéias motivadas e geram preconceitos que devemos combater.
Isso fica evidenciado no caso do episódio Carmo Bernardes, citado por Bortoni no livro Educação em língua materna, o aluno justificou o seu atraso ao professor dizendo que o relógio de sua casa estava azangado. O mestre Frederico não compreendeu que o aluno não cometeu erros de português ao dizer a palavra azangado, ele apenas falou de forma diferente da região do professor. Ao ser advertido, o aluno sentiu-se envergonhado e discriminado. Há, ainda, expressões que são mais comuns na língua oral do que na língua escrita. Do ponto de vista lingüístico falando, o “erro de português” não existe, o que existe são falares diferentes, por exemplo: na escrita a palavra trabalho, geralmente é pronunciada como trabaio, o lh é trocado com facilidade por i.
Bortoni relata um diálogo de uma professora e um aluno, representamos a fala da professora por P e a fala do aluno por A.
P – Reinaldo mais por que você não veio ontem?
A – Num deu tempo.
P – Num deu tempo por quê?
A – Tava trabaianu.
P – O Reinaldo estava trabalhando ontem e por isso não veio à aula.
Pode-se observar que a professora não discriminou o aluno Reinaldo, por ele falar de modo diferente. A professora repetiu a resposta do aluno, de forma padrão, mostrando-lhe, que a palavra trabalhando é o jeito mais correto para se falar e escrever, em sala de aula.
Bortoni fala em que momento é coerente usar a palavra trabaianu e em que momento emprega-se a palavra trabalhando.
Quando falamos com nossos amigos, podemos dizer ‘trabaianu’; quando falamos com pessoas que não conhecemos bem, empregamos a palavrinha como a escrevemos, assim: ‘trabalhando’. (BORTONI, 2004: p. 43)
Só poderia falar em erro, se cada falante errasse de forma diferente e individual no momento de transmitir o som da palavra. Nesse mesmo exemplo, pode-se observar a importância da linguagem escrita e da linguagem falada e também suas semelhanças e diferenças.
Para que o professor possa trabalhar essa diferença na fala do aluno, é preciso que ele saiba identificar essas diferenças, facilitando ao aluno, o monitoramento do seu estilo, sem prejudicar o processo de ensino de aprendizagem, como no caso de Carmo Bernardes, citado anteriormente. É importante respeitar as características culturais e psicológicas do aluno para que ele não se torne desinteressado e revoltado perante a escola.
Toda variedade regional ou o jeito de falar já é característica da própria identidade. Esse recurso, que confere a identidade pessoal através da fala, é motivo de orgulho para muitos.
O jeito característico de falar de Chico Bento, personagem criado por Maurício de Souza, em revista de historinhas em quadrinho, traz rica cultura rural. Em suas historinhas, de personagem diferente da fala das pessoas que moram em zona urbana, essa cultura, trabalhada em sala de aula, pode despertar nos alunos a percepção para a diversidade da nossa língua. Mas, o Conselho Nacional de Cultura, na década de 1980, tentou proibir a publicação da revista de Chico Bento “alegando que ela servia de mau exemplo às crianças brasileiras, que passariam a falar ‘errado’ como Chico Bento.” (BORTONI, 2004. p. 46). Podem-se destacar muitas palavras dos falares rurais que são diferentes dos falares urbanos.
Exemplos:
Falar Rural
Falar Urbano
Vixi
Virgem
Inté
Até
Prantei
Plantei
Trabaio
Trabalho
Pobrema
Problema
Craro
Claro
É importante que o professor monitore a sua fala quando estiver em lugares que exijam fala de prestígio. Sendo em lugar diferente, a fala pode ser natural e espontânea, mesmo quando se está perto de pessoas que conhecem a norma padrão. A professora Emília pensa diferente, está sempre corrigindo o modo de falar de sua colega, Silvia. Bortoni relata que a personagem Silvia, prefere falar de forma natural, respondendo a professora Emília que “a gente ‘estamos’ de férias, ‘tá bão’?”. Mas, a professora Emília não concorda com o jeito de falar de sua colega e responde que “uma professora deve estar sempre alerta!” Que para o professor é coerente dar exemplo de fala monitorada.
A fala pode ser natural conforme a classe social de cada um, não necessariamente deve ser conforme a gramática normativa. Deve-se respeitar a fala das pessoas que falam o português não-padrão, como a fala da personagem Eulália, sem preconceitos, pois ela foi alfabetizada depois de muitos anos de idade. O seu costume de falar é espontâneo e ela demonstra não ter conhecimentos da gramática normativa.
A Eulália foi alfabetizada quando tinha mais de quarenta anos. Hoje ela sabe ler e escrever, foi alfabetizada no português-padrão, mas continua empregando no dia-a-dia a variedade não-padrão que é a ‘língua materna’ dela, usada pelas pessoas de sua família e de sua classe social. (BAGNO, 2006: p. 31)
O falante do português não-padrão, às vezes, é rejeitado pelo falante do português padrão. A reação do falante escolarizado diante do português não-padrão é considerá-lo um “português errado”, “corrompido” e “estropiado”. Coerente se faz saber às razões que levam as pessoas a falarem de forma diferente, e ao mesmo tempo, de forma semelhante, do que é ensinado na língua escrita.

2 - A Linguagem escrita em sala de aula

Se o falante pudesse falar sem fazer frases, poderia, então, seguir com rigor a teoria da gramática, ou seja, as palavras soltas são fáceis de falarem corretamente, mas quando o falante forma frases, em sua comunicação, faz-se necessário observar as concordâncias gramaticais. “De qualquer forma, não se justifica nenhum servilismo em relação a ela. O único padrão fixo é a verdade”. (LUFT, 2006: p.93).
A teoria da gramática é passada na escola, muitas vezes, sem fundamentos. É aplicada indevidamente, resultando-se em prejuízos irrecuperáveis de tempo pedagógico para professores e alunos. Ensinar a prática da língua é tempo precioso e ganha muito mais do que ensinar definições, regras e exercícios cansativos.
O ensino de teoria gramatical, tradicional ou moderna, com termos oficiais ou não, consome naturalmente largas fatias de tempo – prejuízo irrecuperável para professores e alunos. Um tempo precioso, que devia ser ganho na prática da língua, é malbaratado em definições e classificações discutíveis, análises canhestras ou equivocadas, exercícios gramaticais sem objetivo, etc., etc. (LUFT, 2006: p. 94)
Acredita-se que o conhecimento adquirido da língua materna desenvolve e aperfeiçoa a capacidade comunicativa do aluno. Talvez o aluno já tenha em mente a dificuldade de aprender a teoria da gramática. Ele demonstra-se desinteressado em aprender, pensando estar “ganhando tempo”, sem sofrer com tanto ensinamento. Os resultados dos conteúdos são grosseiros e a verdade é que o aluno não aprende mesmo. Certamente, aprendem-se regrinhas soltas que faz o falante tropeçar na hora da fala, fazendo com que a comunicação não seja espontânea e autêntica.
No momento da comunicação, o falante, acreditando que “não sabe a língua” e que não sabe diferenciar o “certo ou errado”, prefere se calar. Ele se sente inseguro, tendo pressentimentos de incapacidade de linguagem, fazendo com que deixe de ser ele mesmo.
O professor ensina tantas definições, conceitos enormes e incoerentes em sala de aula que o aluno, “para aprender”, é obrigado a decorar regras. Do ponto de vista linguistico, isso não é solução coerente, pois o aluno continua sem saber a gramática, portanto, surge a idéia errada de que somos incapazes de aprender a língua do país.
O autor Luft ainda diz que não é conveniente a linguística ser ensinada na escola, deve-se ensinar linguística no ensino de curso de graduação e pós graduação. A linguística preocupa-se com as noções fundamentais de linguagem e de língua, noções de que a língua mostra o interior de cada falante. Esses fundamentos não devem ser considerados como matéria de ensino para ser vista em ensino fundamental ou médio, mas, são indispensáveis para o professor na prática pedagógica. O ensino precisa conquistar-se com o controle permanente da linguagem, falada e escrita.
Kato, fala sobre a natureza da ortografia, fazendo comparação entre a ortografia do inglês e a ortografia da língua portuguesa. A ortografia é alfabética no inglês e no português, mas a sua utilização é diferente.
Mas, os ingleses e americanos também devem achar estranho que nós escrevamos descontar e leiamos [discontá(r)], quando a palavra correspondente para eles é escrita discount, mais próxima da pronúncia real. [...] diferenças dialetais e variações estilísticas que afetam a pronúncia impediu que a escrita alfabética pudesse ter uma natureza estritamente fonética. (KATO, 1998: p. 17).
Para Bagno, o português não-padrão é desprestigiado por muitos, e quando o aluno começa a freqüentar a escola, falando esse português, é considerado um “deficiente” lingüístico. Pois, na verdade esse aluno fala uma linguagem diferente do português que é ensinado na escola. Quando o aluno percebe essa diferença, ele cria sentimento de inferioridade mental, e sente-se rejeitado perante a escola. O pensamento de incapacidade de aprender, também é possível passar na cabeça do professor, pensando ele, que está ensinando algo que nunca será aprendido por esse aluno. O resultado é que o aluno não vai aprender por sentir desmotivado e o professor desmotivado a ensinar. Talvez seja por isso que muitos alunos de classe baixa acabam desistindo de estudar. Pois o aluno sentindo-se desprezado no jeito de falar, ouvindo palavras diferentes do seu contexto lingüístico, não somente na disciplina de Português, mas em todas as disciplinas vistas na escola, ele acaba abandonando a escola. E muitos educadores valorizam as crianças que já falam o português padrão quando chegam à escola, e cometem injustiça, desprezando as outras que não falam esse português. Esquecendo que a criança que fala o português não-padrão precisa também de atenção, de ser valorizada, pois ela traz em seu repertório diversos conhecimentos, adquiridos na língua materna. O falante do português não-padrão também deve lutar contra as desigualdades sociais, igualmente ao falante da norma padrão, para se chegar ao futuro de boa qualidade profissional.
O domínio da norma padrão não é suficiente para que o falante do português não-padrão consiga “subir na vida”, todavia é uma forma que ele tem de lutar em igualdade com as pessoas das classes privilegiadas, conforme afirma Bagno:
O domínio da norma-padrão certamente não é uma fórmula mágica que vai permitir ao falante de PNP “subir na vida” automaticamente. Mas é uma forma que esse falante de português não-padrão tem de lutar em pé de igualdade, com as mesmas armas, ao lado dos cidadãos das classes privilegiadas, para ter acesso aos bens econômicos, políticos e culturais reservados às elites dominantes. (BAGNO, 2006: p. 30)
Diante do exposto percebe-se a importância de o professor compreender melhor o aluno na sua linguagem não-padrão, fazendo dela o princípio do domínio da linguagem padrão. Com essa compreensão, talvez se descubra novas estratégias de ensino de qualidade, fugindo da norma tradicional que é autoritária e intolerante para esse aluno. O português não-padrão é uma linguagem coerente como qualquer linguagem, se isso fosse aceito, não existiam mais os preconceitos lingüísticos dentro de sala de aula. O que é diferente na fala do aluno não quer dizer que seja errado, pois o ser humano é diferente e tem atitude também diferente dos demais.
Acredita-se que até a regra da moda, a regra das atitudes dos adolescentes e de uma classe social, faz necessário ser diferente. Cada pessoa tem atitude de ser diferente, dentro da moda ou não. Quando o adolescente usa boné, um prefere usar com a aba do boné virada para traz, outros da mesma faixa etária ou não, usam o boné com a aba virada para frente. É o jeito característico que eles encontraram para se sentir bem. Mas, não quer dizer que tudo isso está errado, são atitudes diferentes. É isso que o professor precisa compreender para fazer a diferença, aceitando de forma natural a diferença lingüística desse aluno. Não é permitido afirmar que o aluno está cometendo erro na sua fala quando diz “os óio”, pois milhões de pessoas também assim falam. Isso é justificado pelos gramáticos como um “erro comum”. Assim acontece com a pronúncia da palavra “pranta”, o aluno não está cometendo erro, porque milhões de pessoas falam “pranta” ao invés de “planta”, e sabem que as duas palavras têm o mesmo significado, porque na verdade é a mesma palavra. Para a semelhança e diferença entre estas palavras, diz-se que ocorreram fenômenos semelhantes, e não erros. Diferentemente seria a pronúncia da palavra “cafalo”, ninguém compreenderia claramente o que o aluno queria dizer, daí o aluno cometeu erro, pois a pronúncia da palavra “cavalo” é “cavalo” e ninguém pronuncia “cafalo”, a não ser que esse aluno tem comprometimentos sensoriais na audição que se refletem na fala, porque essa palavra não é registrada na variedade do português do Brasil.
Para diferenciar o português-padrão e não-padrão, Bagno construiu o seguinte quadro:
Português não-padrão
Português padrão
natural
artificial
transmitido
adquirido
apreendido
aprendido
funcional
redundante
inovador
conservador
tradição oral
tradição escrita
estigmatizado
prestigiado
marginal
oficial
tendências livres
tendências refreadas
falado pelas classes dominadas
falado pelas classes dominantes
O português não-padrão é natural por meio de desenvolvimento natural da língua, a fala é espontânea com regras respeitadas pelo falante. Ele é transmitido de uma geração a outra geração, seguindo uma mesma classe social, de convívio comum com a família. As suas regras são apreendidas com facilidades pelo falante. É funcional, porque elimina as regras desnecessárias na língua. O português não-padrão é inovador, porque aceita mudanças ativas na linguagem, evoluindo com rapidez. Por ser uma língua que se aprende no contexto familiar é de tradição oral. Ele é estigmatizado pelas pessoas escolarizadas, sendo condenado como português feio, sem prestígio. É também marginal por ser falado por pessoas que vivem fora do âmbito da sociedade ou da lei. Ele é de tendência livre por ser falado por milhões e milhões de pessoas, sendo falado pelas classes dominadas, de classe social de baixa renda, e também por pessoas escolarizadas.
Nessa comparação do português padrão e não padrão, Bagno afirma que:
No entanto, é preciso deixar uma coisa bem clara: existem muito mais semelhanças do que diferenças entre as variedades do português do Brasil. Na verdade, se fosse possível colocar num dos pratos de uma balança os traços linguísticos que diferenciam as variedades mais padronizadas e as variedades menos padronizadas e, no outro prato, os traços linguísticos semelhantes, ficariam surpresas de ver como as semelhanças são em quantidade muitíssimo maior que as diferenças. (BAGNO, 2006: p. 37 e 38)
O português não-padrão é coerente, sóbrio, mais econômico, mais modesto, menos “vaidoso” e possui regras gramaticais diferentes do português padrão. Ele elimina todas as marcas “supérfluas” e redundantes. É uma língua “enxuta”, mais dinâmica, ágil, e flexível do que o português padrão. Todavia, não se deve eliminar o português padrão de ser ensinado em sala de aula e passar a ensinar o português não-padrão. Mas é de grande importância conhecer as regras que servem para estar atentos às diferenças e semelhanças que existem entre o português padrão e não-padrão.

3 - O ensino da gramática normativa, considerando a linguagem natural.

Bagno afirma que a norma-padrão é um modelo ideal de língua que deve ser ensinada na escola e sendo aprendida, possivelmente se formará as autoridades, os órgãos oficiais, escritores, jornalistas e pessoas cultas. Mas, não necessariamente essa linguagem é usada por elas. Sendo estudada é de tamanho investimento, composto de trabalho de padronização, de criação e cultivo desse modelo de língua. A norma padrão é analisada pelos gramáticos que impõem regras aceitáveis para o uso “correto” da língua; os autores de dicionários também se inclinam a respeito da norma-padrão, colocando em prática os significados exatos das palavras; a Academia de Letras determina o modo exclusivo de escrever a ortografia oficial imposta por decreto-lei governamental; os autores de livros didáticos planejam os exemplares escolares conforme estratégias pedagógicas eficientes, facilitando o ensino aprendizado da norma-padrão para as crianças.
Conforme o que foi dito sobre a norma-padrão, o autor acrescenta:
Por isso a norma-padrão dá a impressão de ser mais rica, mais complexa, mais versátil que todas as demais variedades da língua falada pelas pessoas do país. Na verdade, ela nada tem de melhor que essas variedades, ela só tem mais que as outras. (BAGNO, 2006: p. 23)
A norma-padrão adquire tanta importância que as demais variedades são vistas como “impróprias”, “inadequadas”, “feias”, “erradas”, “deficientes”, “pobres”... E por ter tanto prestígio social, ela é nomeada como língua portuguesa, representando a variedade linguística dos falantes dessa língua. Ela é usada na literatura, nos meios de comunicação, nas leis e decretos do governo, definida nos dicionários, explicada nas gramáticas e é ensinada nas escolas.
Segundo Geraldi, a finalidade da escola é ensinar o português padrão e também criar estímulos para que ele seja aprendido. Priorizar o português não-padrão em sala de aula e deixar de exigir o domínio do dialeto padrão, dificulta cada vez mais o ensino do português padrão. Quando o aluno não aprende ou aprende e não coloca em prática o que aprendeu, poderá ter juízo de valor a respeito, sendo valores sociais dominadores de caráter hereditário ou a escola está com planejamento inadequado ao ensino de qualidade. Cabe a escola analisar o que na verdade está ocorrendo com esse aluno, avaliando de forma compreensiva para que ele possa caminhar lado a lado com a realidade educacional. O papel da escola é ensinar o que o aluno não sabe, ou seja, o português padrão, pois ele traz em seu repertório o não padrão que é a linguagem natural.
sabe-se que não avalia a inteligência do aluno conforme o dialeto, portanto o aluno que domina a escrita padrão e o aluno que não a domine, é capaz de aprender do mesmo jeito. É normal o ensino de a gramática normativa parecer difícil, pois todas as línguas variam de modo que não há juízo de qualidade de ciência para ordenar que alunos dominem regras antigas, que jamais ouvem e que quase não encontram em textos mais comuns.
O autor Geraldi mostra como a criança aprende a dominar a língua:
Não se aprende por exercícios, mas por práticas significativas. Essa afirmação fica quase óbvia se pensarmos em como uma criança aprende a falar com os adultos com quem convive e com seus colegas de brinquedo e interação em geral. O domínio de uma língua é o resultado de práticas efetivas, significativas, contextualizadas. (GERALDI, 2006: p. 36)

a diferença é pequena entre o que o aluno já sabe da língua e o que a escola propõe a ensinar sobre a gramática, pois as semelhanças entre a linguagem falada e escrita são maiores do que as diferenças e isto são percebidas através de textos escritos ou de falas gravadas dos alunos. Baseado na norma padrão, análises mostram que alunos acertam mais do que erram e os erros tem lógica de entendimentos.

é coerente a escola ensinar com clareza a organizar as idéias, a ter certeza de pensamento ou saber argumentar. Portanto, não se fala de escola que forma escritor porque a escola não forma escritor, mas de escola que deveria formar cidadão capaz de usar a língua na vida profissional com clareza e segurança. O importante “é se habilitar a falar claro, escrever claro, de modo eficiente, utilizar com desembaraço e prazer seu bem pessoal mais íntimo: a língua. Isso é o que importa estudar, praticar, desenvolver; não regras de Gramática”. (LUFT, 2006: p. 18). A Gramática é vista como objeto de ensino e que nada tem de pejorativo, apenas reclama a apreciação entre a natureza e sua descrição.
Considerações Finais
O presente trabalho mostrou como é importante trabalhar a norma padrão em sala de aula, considerando a linguagem materna do aluno, mostrando que existem mais semelhanças do que diferenças entre a linguagem falada e a linguagem escrita. Destaca a importância que cada uma delas desempenha no processo de ensino-aprendizagem da língua, mostrando que a norma-padrão precisa ser ensinada na escola, mas não necessariamente ser imposta na fala do aluno, principalmente em lugares onde a fala não precisa ser monitorada.
É de fundamental importância valorizar o conhecimento que o aluno traz em seu repertório linguístico. Valorizar os alunos de forma igual, os que falam a norma culta e os que não a falam, pois todo aluno que não tem comprometimentos sensoriais na audição que se refletem na fala é capaz de aprender.
O cuidado na realização deste trabalho foi bem maior, pois todo trabalho precisa ser feito com muita atenção, interesse e dedicação, além disso, este é considerado como requisito parcial para a obtenção do Trabalho de Conclusão de Curso,
o objetivo principal deste trabalho foi alcançado, pois as pesquisas enriqueceram o conhecimento sobre as duas modalidades: linguagem falada e linguagem escrita, da norma padrão e não-padrão, facilitando mais o entendimento entre elas.
Referências bibliográficas:

BORTONI, Ricardo, Stella Maris. Educação em língua materna – A sociolingüística em sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
GERALDI, João W. O texto na sala de aula. 4 ed. São Paulo: Ática, 2006.
KATO, Mary A. No mundo da escrita. Uma perspectiva psicolingüística. 6 ed. São Paulo: Ática, 1998.
LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade – Por uma nova concepção da língua materna. 8 ed. São Paulo: Ática, 2006.


[1] Formada em Letras/Literatura na Faculdade IESCO. Especializando em Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Ciências e Tecnologia Equipe Darwim.
[2] Mestre em Gestão Ambiental. Professor orientador do curso Pós-Graduação.